Governo: MÉDICA COTADA PARA ASSUMIR MINISTÉRIO DA SAÚDE É CRÍTICA À CONDUÇÃO DE BOLSONARO NA PANDEMIA

Ludhimila Hajjar defende a necessidade de um plano de coordenação nacional de controle da doença, além de uso de máscara, isolamento social e rastreamento de infectados; Eduardo Pazuello teria pedido para deixar o cargo.

Mais forte candidata a assumir o Ministério da Saúde, a cardiologista e intensivista Ludhimila Abrahão Hajjar é crítica à condução do presidente Jair Bolsonaro na pandemia. Em diversas manifestações ao longo do último ano, a médica sempre ressaltou ser contra  o chamado “tratamento precoce”, à base de cloroquina, e defensora de todas as medidas combatidas pelo Planalto, como uso de máscaras, distanciamento social e até lockdown de acordo com as estatísticas de cada região.

Ludhmila Hajjar

A médica Ludhmila Hajjar é cotada para assumir o Ministério da Saúde Foto: Taba Benedicto/Estadão

Natural de Anápolis (GO), a médica afirmou ao jornal goiano Opção, há exatos sete dias, que o “Brasil está fazendo tudo errado na pandemia”. Segundo Ludhimila, o Brasil deveria estar hoje com cinco ou seis vacinas disponíveis quando na realidade apenas dois tipos de imunizantes já são oferecidos aos grupos já definidos no Plano Nacional de Imunização.

Enquanto o presidente Bolsonaro reclama até hoje da decisão do STF que deu liberdade para governadores e prefeitos tomarem medidas de enfrentamento à pandemia, Ludhmila é favorável às decisões descentralizadas, incluindo a adoção de medidas mais restritivas de isolamento social – alvo dos protestos de bolsonaristas em todo o País.

“A questão de fazer lockdown e toque de recolher tem de ser tratado Estado por Estado, semana a semana, pelos técnicos e cientistas locais. Não acredito que deve haver uma medida nacional única que sirva para todo o Brasil. Tem de ser tratado individualmente”, afirmou na entrevista ao jornal.

O aumento da pressão pela saída do general Eduardo Pazuello da pasta se dá no momento em que o País bare recorde de mortos pela covid-19: foram 2.349 em 24 horas no último dia 10. Desde o início da pandemia, já são 277.216 óbitos.

O nome da cardiologista foi levado ao Planalto pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).  Ela e Bolsonaro conversaram na tarde deste domingo, 14, mas seu nome não foi anunciado. Pazuello, por sua vez, diz que fica no posto até quando o presidente assim desejar.

Eduardo Pazuello

Eduardo Pazuello pedou exoneração do Ministério da Saúde Foto: Dida Sampaio/Estadão

No sábado à noite, o presidente se reuniu com ministros da ala militar do governo no Hotel de Trânsito de Oficiais do Exército, onde mora Pazuello. Além de ministro da Saúde, participaram da conversa os ministros Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, Braga Netto, da Casa Civil, e Fernando Azevedo, da Defesa. Todos são generais do Exército da reserva, à exceção de Pazuello, que permanece no serviço ativo.

A reunião ocorreu de última hora e não constava na agenda oficial da Presidência ou dos ministros. Eles deixaram o local sem dar declarações à imprensa. A troca no comando da Saúde foi colocada por parlamentares a palacianos como uma forma de segurar a CPI da Covid-19 no Senado.

Ministros com assento no Palácio do Planalto entenderam que a pandemia não é “gripezinha” e que o País enfrenta o pior momento da crise. Essa mensagem foi reforçada a Bolsonaro em reuniões durante a semana.  Em meio às especulações sobre a saída de Pazuello, o Ministério da Saúde afirmou em nota na tarde deste domingo que “até o presente momento ele segue no cargo”. Em seguida, o ministro divulgou uma nota na qual diz não estar doente e que não entrega o cargo se o presidente não o pediu. “Sigo como ministro da saúde no combate ao coronavírus e salvando mais vidas.”

CARDIOLOGISTA RENOMADA

Ludhimila Hajjar ingressou na Universidade de Brasília (UNB) aos 17 anos e, atualmente, é professora da Associação de Cardiologia da Faculdade de Medicina da USP, coordenadora de cardio-oncologia do InCor e coordenadora da cardiologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Suas linhas de pesquisa têm como foco a cardiologia crítica, a terapia intensiva cirúrgica, a terapia intensiva no paciente oncológico e a cardio-oncologia.

No setor privado, a médica atua em hospitais da Rede D’Or, como o Vila Nova Star, em São Paulo, e o DF Star, em Brasília. Foi atuando nestas unidades que ela atendeu nomes importantes da política que tiveram covid-19 nos últimos meses. Na lista de pacientes estão o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, o ministro dos Transportes, Tarcísio Gomes de Freitas, além do próprio general Pazuello.

Em entrevista à revista Forbes no fim do ano passado, Ludhmila Hajjar defendeu a necessidade de um plano de coordenação nacional de controle da pandemia. Ela apontou como uma das causas da atual crise sanitária no País a ineficiência do governo na adoção de medidas que poderiam ter minimizado a prevalência da covid-19.  A médica também é defensora de medidas combatidas por Bolsonaro, como o uso de máscaras, o distancimento social e o rastreamento dos infectados como forma de evitar a transmissão.

O outro cotado é Marcelo Queiroga, atual presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, Queiroga é especialista em cardiologia e tem doutorado em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto/Portugal. Atualmente, o médico dirige o departamento de hemodinâmica e cardiologia intervencionista (Cardiocenter) do Hospital Alberto Urquiza Wanderley (Unimed João Pessoa) e é médico cardiologista intervencionista no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, Paraíba.

Queiroga também atuou como dirigente da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, na qual exerceu a presidência no biênio 2012/2013, sendo membro permanente do seu Conselho Consultivo. Integra o Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba como Conselheiro Titular.

Assim como Ludhmila Hajjar, Marcelo Queiroga defende o isolamento social como forma de combate à pandemia. Ele também se posicionou a favor de medidas que viabilizem seguros para profissionais de saúde da linha de frente. Ambos os médicos já se pronunciaram em diversas ocasiões contra o tratamento precoce, como o uso da cloroquina, para a covid.-19.

BOLSONARO ENCONTRA LUDHMILA, MAS AINDA NÃO HÁ DEFINIÇÃO PARA MINISTÉRIO DA SAÚDE

Em meio a discussões no governo sobre a possível substituição do ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o presidente Jair Bolsonaro encontrou a cardiologista Ludhmila Hajjar neste domingo (14), mas ainda não há confirmação sobre a troca no comando da pasta. Bolsonaro teria discutido o assunto na noite de sábado (13) com ministros da ala militar: Braga Neto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Fernando Azevedo (Defesa) e o próprio Pazuello.

Há uma avaliação de que a mudança na estratégia do governo em relação à pandemia, de virar o foco para a vacinação, deve ser coroada com uma troca no Ministério. Segundo interlocutores do presidente, isso deve ocorrer nos próximos dias. Bolsonaro e Pazuello se reuniram com uma das cotadas para assumir a vaga, a cardiologista e intensivista Ludhmila Hajjar. O encontro foi confirmado pela Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social). Ela tem apoio de círculos importantes no Congresso, o que pode ser decisivo para a indicação. Durante a pandemia, a médica atendeu nomes como Luiz Fux, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Arthur Lira (PP-AL), atual presidente da Câmara.

Lira, inclusive, foi à defesa do nome de Hajjar nas redes socias. “Coloquei os atributos necessários para o bom desempenho à frente da pandemia: capacidade técnica e de diálogo político com os inúmeros entes federativos e instâncias técnicas. São exatamente as qualidades que enxergo na doutora Ludhmila”, escreveu ele no Twitter.

“Espero e torço para que, caso nomeada ministra da Saúde, consiga desempenhar bem as novas funções. Pelo bem do país e do povo brasileiro, nesta hora de enorme apreensão e gravidade. Como ministra, se confirmada, estarei à inteira disposição”, continuou.

A REAÇÃO DE PAZUELLO

Apesar de participar das discussões, o ministro não confirmou oficialmente a saída. Em nota, o Ministério da Saúde disse que “até o presente momento o ministro Eduardo Pazuello segue à frente da pasta”.

Por meio da assessoria do órgão, o general ressaltou que continua no cargo. “Eu não estou doente, continuo como ministro da Saúde até que o presidente da República peça o cargo. A minha missão é salvar vidas”, declarou. Pazuello comunicou à equipe dele que fará um anúncio nesta segunda-feira (15) para oficializar a compra de vacinas da Pfizer e da Janssen. A decisão pode render ao país mais 140 milhões de novas doses de imunizantes contra Covid-19.

(Da redação com Estadão e CNN)

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