Decepcionaram-se os seguidores do presidente Jair Bolsonaro que esperavam dele uma saraivada de impropérios contra o ministro do STF, Edson Fachin, que resolveu anular todas as condenações de Lula na Lava Jato por ter descoberto, de repente, que os processos criminais sobre o esquema de corrupção na Petrobras, abertos há mais de cinco anos, deveriam ter tramitado na Justiça Federal de Brasília e não em Curitiba.
Sem fazer o menor esforço para mostrar-se indignado com a surpreendente medida judicial que sacudiu nesta segunda-feira (8) o mundo político, Bolsonaro declarou apenas, com voz calma e serena, que Fachin sempre teve uma forte ligação com o PT e argumentou que o magistrado não deveria ter tomado sozinho uma decisão desse porte.
Lembrando alguns dos escândalos de roubalheira que surrupiaram bilhões de reais dos cofres públicos nos governos do PT, ele disse ainda imaginar “que o povo não queira sequer ter um candidato como esse (Lula) em 2022, muito menos pensar em uma possível eleição dele”.
Mais protocolar do que isso impossível. Pronunciou-se apenas para não ficar em silêncio.
Em verdade, o presidente gostaria mesmo é de soltar alguns rojões para celebrar o estranho ato do ministro Fachin.
Consciente do enorme risco que representa para o seu projeto de reeleição o eventual surgimento de uma candidatura competitiva dentro do seu espectro ideológico, tudo o que ele mais deseja na vida é polarizar com Lula, explorar a grande rejeição ao petismo que predomina na maioria da população e reaglutinar os eleitores da classe média e os grupos da direita mais moderada que estão frustrados com o não cumprimento de promessas de campanha e descontentes com o seu estilo de governar, mas que, apesar disso, farão qualquer coisa para evitar a volta da esquerda ao poder.
É bem pensado, faz muito sentido, mas se vai dar certo é outra história.