Caio Gottlieb: A MÁFIA NÃO FARIA MELHOR

Por sete votos a quatro, placar que parece ter sido feito sob encomenda para o escândalo não ficar tão escancarado, o Supremo Tribunal Federal rejeitou, para surpresa de ninguém, a delação premiada de Sergio Cabral.

Nem vale a pena perder tempo relatando os argumentos usados pelos integrantes da Corte que respaldaram a decisão, uma vez que não passaram de meros subterfúgios forjados apenas para atender o objetivo planejado.

Ou seja, qualquer bobagem juridicamente construída serviria para dar um verniz de legalidade na missão de calar a voz do delator.

A propósito, cunhou-se no linguajar futebolístico a irônica expressão “perigo de gol” para descrever a situação em que o árbitro paralisa um lance de ataque marcando uma falta claramente inexistente no exato momento em que o jogador iria empurrar a bola para o fundo da rede adversária.

Foi o que aconteceu com a colaboração que o ex-governador fluminense havia acertado com a Polícia Federal, recheada de revelações de casos de corrupção até então ocultos envolvendo principalmente notórios figurões do Poder Judiciário, entre eles o ministro Dias Toffoli, do mesmo STF, que não teve sequer o pudor de se declarar impedido no julgamento, juntando-se descaradamente aos votos que derrubaram a delação.

Em resumo, face ao iminente “perigo de gol” contra o colega, os supremos juízes, incluindo o próprio suspeito de receber propinas, não hesitaram em parar o jogo sem o menor constrangimento.

Não há como deixar de embutir nessa história a célebre Omertà, como é chamado no dialeto napolitano o código de honra das organizações mafiosas do Sul da Itália.

Trata-se de um juramento de mútua proteção fundamentado em um forte sentido de “família” e num voto de silêncio que impede a cooperação com autoridades policiais ou judiciárias, seja em direta relação pessoal como em fatos que envolvam terceiros.

Qualquer semelhança não é mera coincidência.

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