O termo agro 4.0 não é novo. Porém, o uso de sensores, tecnologia máquina a máquina (M2M) e análise por inteligência artificial em nuvem esbarra na falta de conectividade no campo. Dessa forma, o tempo para chegada de internet de qualidade ao interior do Brasil vai determinar quão agressiva será a curva de crescimento da tecnologia no campo e, consequentemente, o salto de produtividade.
De acordo com o Ministério da Agricultura, atualmente, apenas 23% do espaço agrícola brasileiro possui algum nível de cobertura de internet. Em um cenário mais otimista, com a promessa de instalação de 15 mil novas torres de transmissão, o ministério acredita que a cobertura de internet pode chegar a 90% até 2026.
Se isso acontecer, a tecnologia pode fazer o Valor Bruto da Produção (VBP) da Agropecuária crescer 9,6% – isso significa um aumento de R$ 101,47 bilhões sobre o atual R$ 1,057 trilhão.
“Nosso produtor rural demanda tecnologia e está apto para continuar recebendo mais inovação. A conectividade promove o avanço tecnológico no campo”, declarou a ministra Tereza Cristina nesta semana, em cerimônia virtual de anúncio das ações do governo com foco em conectividade.
Neste momento, a palavra da moda é 5G. Em meio à batalha internacional entre China e Estados Unidos, quase numa guerra fria, a tecnologia aguarda o leilão da nova geração de internet, previsto para o segundo semestre deste ano.
“Com a chegada do 5G, vamos poder realmente mostrar o poder do agro. Temos a necessidade de implementação dessa tecnologia para universalizar a cobertura móvel na área rural “, afirmou o ministro das Comunicações, Fábio Faria.
O secretário-adjunto de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Cleber Soares, Cleber Soares, diz que, antes mesmo do sinal 5G, as empresas que participarão do leilão, devem garantir, como contrapartida, a conectividade em 4G para localidades com até 600 habitantes e nas principais rodovias do país, por onde escoa a produção agropecuária.
A conectividade via fibra óptica também pode atender regiões rurais desde que próximas ao perímetro urbano, já que depende de cabeamento para a conexão de internet. O modelo é considerado de alta performance sendo imune a interferências e falhas de sinal.
INTERNET VIROU BALCÃO PARA COMPRAR E VENDER
A 8ª Pesquisa Hábitos do Produtor Rural, divulgada pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), nesta terça-feira, 25, mostrou que 76% dos produtores rurais brasileiros utilizam o WhatsApp para negociar.
Um estudo recente da McKinsey & Companhia aponta na mesma direção: 23% dos produtores estão dispostos a vender sua safra totalmente online. Outros 33% estão dispostos a vender até 70% da produção.
A pesquisa da McKinsey mostra também que 46% dos entrevistados preferem canais digitais para comprar insumos. Isso representa um aumento de 10 pontos percentuais frente a um ano atrás. Na Europa e nos Estados Unidos, o crescimento foi de apenas 7 pontos percentuais, chegando a 22% e 31%, respectivamente.
ATÉ CHEGAR O 5G, FIBRA ÓTICA É UMA DAS APOSTAS
Como mencionado, o Ministério da Agricultura vê a fibra ótica como uma alternativa para levar internet às zonas rurais. A prefeitura de Gentil, no Rio Grande do Sul, decidiu apostar nessa tecnologia e levar internet a 99% do município. Segundo o prefeito Alcenir Damalgo, apenas algumas famílias ainda não contam com conexão.
O projeto Gentil On-line surgiu em 2019 após diversos pedidos dos moradores de Gentil, principalmente do meio rural, segundo Damalgo. “Era uma demanda prioritária recebida durante as visitas. As famílias pediam que o poder público encontrasse uma forma de melhorar o sinal de internet e telefone”, diz.
A iniciativa de levar fibra ótica ao campo beneficiou cerca de 350 famílias do município – o município em si tem aproximadamente 1.200 pessoas. “Colocamos, inclusive, na sede de algumas comunidades colocamos Wi-Fi gratuito. Temos quatro ou cinco famílias, mais distantes, mas estamos fazendo um projeto separado para atendê-las”.
A Coprel, vencedora da concessão por 25 anos, concluiu no início de abril do ano passado, o projeto de instalação de mais de 70 quilômetros de redes de fibra óptica em toda a área urbana e rural do município de Gentil. Para isso, foram investidos R$ 652 mil.
Para os moradores, o custo de implementação foi de R$ 500. “Agora, tem o custo mensal [da internet]. Vai de 40 a 80 megas, conforme a necessidade do produtor, com uma taxa de R$ 99”, diz.
A família da produtora rural Thais Cararo, de 27 anos, era uma das que pedia para a prefeitura dar um jeito no problema de conectividade. “A gente até tinha sinal de internet, mas era bastante instável. Não dava para contar muito, pois quando precisávamos, ela caía”, diz.
E ela demonstra estar bastante satisfeita com a tecnologia atual. “Hoje, temos internet a qualquer hora do dia ou da noite. É bastante estável, não varia. Podemos fazer qualquer tipo de operação que precise de internet”.
A conectividade ajudou, inclusive, a desencalhar o projeto de sistema de energia solar da família, o que vem reduzindo os custos com energia elétrica. “Foi um dos fatores que influenciaram, pois necessitava de internet de qualidade e velocidade para se ter captação de dados e monitoramento da geração de energia”, afirma.
Outra facilidade, principalmente no meio da pandemia da Covid-19, é poder reduzir as idas ao centro urbano e as visitas na propriedade. As operações bancárias são feitas on-line e parte das dúvidas a serem tiradas com técnicos são resolvidas também a distância.
MAIS SEGURANÇA
O prefeito de Gentil conta que a próxima iniciativa do governo municipal é colocar câmeras de vigilância em pontos estratégicos do município. O monitoramento em tempo real só será possível graças ao acesso à internet.
Thais Cararo também reforça a importância disso. Segundo ela, muitos vizinhos nem sequer tinham acesso à linha telefônica antes da iniciativa. “Agora, todos estão com internet, com o número de telefone uns dos outros. Isso facilita muito a comunicação [em momentos de emergência”.