O dólar americano e o euro são exemplos de moedas fiduciárias ou tradicionais – notas e moedas impressas pelos governos, cujo valor depende da política econômica e da força da economia de um país. O termo fiduciário tem origem do latim “fiat”, que significa “faça-se”.
O dólar, por exemplo, mantém seu valor pelo fato de os EUA serem uma potência econômica global. A maioria das commodities, do petróleo ao ouro, é negociada em dólares, dando à moeda americana o chamado status de reserva mundial, sendo que a maioria dos bancos centrais dos países detém quantidades significativas de dólares. Da mesma forma, a força da economia da zona do euro impulsionou o valor da moeda europeia, que é a segunda moeda de reserva mais comum.
Além das notas e moedas em circulação, a maior parte da oferta de moeda fiduciária é criada digitalmente, seja pelos bancos centrais que transferem os valores para os principais bancos ou pelos próprios bancos na forma de empréstimos a governos, empresas e consumidores.
As criptomoedas, por outro lado, são privadas e operam de forma independente dos governos. O Bitcoin, o exemplo mais famoso, surgiu em 2009 durante a crise financeira em meio à preocupação com a estabilidade do sistema financeiro global. Ele rapidamente ganhou força devido aos temores de instabilidade política e governos assumindo muitas dívidas. Atualmente, existem mais de 5 mil criptomoedas em um mercado que vale mais de 1 trilhão de dólares.
As transações de Bitcoin são verificadas digitalmente através do uso da tecnologia blockchain, que não está vinculada a um servidor, mas a uma rede global de computadores, tornando-os menos vulneráveis a fraudes. É também o processo que permite a mineração de novas moedas, embora exista um teto para a criação de novos Bitcoins: 21 milhões, um número que deverá ser atingido até 2040.
O Bitcoin subiu de US$ 0,0008 para US$ 0,08 nos primeiros cinco dias após seu lançamento e, desde então, disparou para quase US$ 60 mil antes de cair 40% no mês passado.
E O OURA E AS OUTRAS MOEDAS?
Muitas moedas fiduciárias, como o dólar e a libra esterlina, que antes era a principal moeda de reserva do mundo, já foram lastreadas em commodities escassas como ouro e prata, que ajudaram a preservar seu valor.
Uma moeda fiduciária pode perder o valor se os governos imprimirem muito dela, como foi o caso da Alemanha dos anos 1920. O país tinha enormes dívidas e recebeu sanções econômicas após sua derrota na Primeira Guerra Mundial, que o governo tentou pagar por meio da impressão em massa de notas. Em novembro de 1923, 1 dólar valia 4.210.500.000.000 marcos.
Até a Grande Depressão nos anos 1930, os detentores de dólares podiam, em teoria, trocar seu dinheiro por ouro armazenado nos cofres federais dos Estados Unidos. Em 1971, o presidente do país, Richard Nixon, desvinculou o dólar do ouro, transformando-o em uma moeda fiduciária. Na época, uma onça de ouro valia 35 dólares. Hoje, o preço é de 1.920,80 dólares.
O ouro – e a prata – continuam sendo ativos populares, especialmente durante as crises econômicas, e alguns economistas querem que as maiores moedas do mundo voltem ao chamado padrão-ouro.
Outros dizem que a forma transparente como o Bitcoin e outras criptomoedas são “extraídos” os torna um investimento tão confiável quanto o metal precioso e as moedas lastreadas em ouro. Eles preveem que, assim que o número total de Bitcoins estiver em circulação, a moeda digital poderá valer 514 mil dólares.
Os críticos da criptografia apontam para a grande volatilidade nos valores do Bitcoin, Ether e outros, o que torna difícil para as empresas aceitá-los para o pagamento de bens e serviços. A Tesla, por exemplo, disse em março que aceitaria o Bitcoin para a compra de seus veículos elétricos, mas recuou dois meses depois.
AS CRIPTOMOEDAS SUBATITUIRÃO O DINHEIRO FIDUCIÁRIO?
Atualmente, a China está testando sua própria moeda digital, o yuan digital. Os Estados Unidos e a União Europeia afirmam que é apenas uma questão de tempo até que as moedas se tornem totalmente digitais, assemelhando-se a criptomoedas. Muitos analistas financeiros acreditam que a tecnologia blockchain por trás de moedas como Bitcoin será útil para o lançamento de versões digitais de moedas já existentes e apoiadas pelo governo.
Entusiastas do Bitcoin dizem que a escassez da moeda privada ajudará a sua credibilidade entre os investidores, em meio a um enorme estímulo e impressão de dinheiro por bancos centrais de todo o mundo na esteira da pandemia da covid-19. Inicialmente, a maioria das criptomoedas era detida por pequenos investidores, mas no ano passado houve um influxo de dinheiro institucional e o aumento da aceitação por comerciantes e plataformas de pagamento online.
Mas algumas plataformas de negociação de criptomoedas foram fechadas devido a investigações sobre fraude e lavagem de dinheiro, envolvendo bilhões de dólares. Os governos, incluindo da China, Índia e Turquia, restringiram recentemente o comércio de criptomoedas, em um grande revés para os planos de crescimento e aceitação pública. Uma regulamentação mais forte por parte dos governos ocidentais também parece estar em jogo.
As preocupações ambientais também podem dificultar o crescimento das criptomoedas, devido à enorme energia elétrica necessária para extrair as moedas e verificar as transações.