Notícia desta sexta-feira (02) veiculada pelo jornal Folha de São Paulo, informou sobre lotes vencidos da vacina AstraZeneca no Brasil, inclusive em Foz do Iguaçu, que, com os dados da matéria, ficou sob suspeita de ter aplicado vacinas vencidas ou de ter deixado de aplicar os imunizantes dentro do prazo. A dúvida surgiu do cruzamento de informações do Ministério da Saúde com as do Governo do Estado e da própria Secretaria Municipal de Saúde.
Na reportagem da Folha de São Paulo, com base em dados do Ministério da Saúde, consta que “Registros indicam que milhares no Brasil tomaram vacina vencida contra Covid”. E com o indicativo: “Veja se você é um deles”. Segundo a matéria, dentre as mais de 100 milhões de vacinas já aplicadas no país, ao menos 26 mil doses da vacina AstraZeneca, distribuídas ou estariam vencidas em diversos postos de saúde do país, o que comprometeria sua proteção contra a Covid-19. Os dados constam de registros oficiais do Ministério da Saúde, por meio do DataSUS, Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica) e Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19.
Até o dia 19 de junho, os imunizantes de oito lotes com o prazo de validade expirado haviam sido utilizados em 1.532 municípios brasileiros. Entre estas cidades, aparece Foz do Iguaçu que teria aplicado 129 vacinas vencidas, sendo a 23ª no Brasil que mais aplicou o imunizante com prazo expirado.
As vacinas desses lotes foram distribuídas de janeiro a março pelo governo federal para todos os estados do país antes do vencimento. Elas somam quase 3,9 milhões de doses, das quais cerca de 140 mil não foram utilizadas dentro do prazo de validade. Dessas, até o dia 19 de junho, 25.935 mil tinham sido aplicadas já vencidas.
Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados pela Folha de São Paulo, no lote que venceu no dia 14 de abril estariam 129 doses de Foz do Iguaçu, aplicadas ou estocadas pela secretaria Municipal de Saúde, comandada pela esposa do prefeito Chico Brasileiro, Rosa Jerônymo, as quais teriam sido distribuídas da seguinte forma: 100 doses na unidade de saúde do Jardim América; 08 na UBS do Campos do Iguaçu; 06 na UBS Vila Adriana; 05 na UBS do Portal da Foz; 04 na UBS Padre Monti; 03 na UBS Três Lagoas; 02 na UBS Parque Presidente; e 01 na UBS da Vila Carimã.
GOVERNO DO PARANÁ
Em nota publicada na noite desta sexta-feira, 2 de julho, o Governo do Estado do Paraná informa que “não recebeu e não distribuiu vacinas contra a Covid-19 fora do prazo de validade”. Acrescentou que “dentre os oito lotes de AstraZeneca mencionados pelo levantamento da Folha de S.Paulo, o Paraná recebeu apenas dois (4120Z005 e CTMAV520).”
Segundo o Governo do Paraná, o primeiro lote foi distribuído aos municípios no dia 23 de janeiro, com validade até 14 de abril. Foram 86,5 mil unidades, O segundo, com 38,6 mil, foi enviado às cidades no dia 26 de março, com validade até 31 de maio.
“O período mínimo entre a distribuição e a validade dos imunizantes foi de 66 dias. O máximo, de 81 dias”. Com isso, a conclusão é de que se o Estado entregou as vacinas dentro do prazo de validade e 129 doses foram aplicadas depois é porque a Secretaria de Saúde deixou vencer por total descontrole, inoperância e omissão.
O setor de Imunizações da Secretaria de Estado da Saúde informou que pode trata-se de problema de registro no sistema nacional, a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). O Estado orientou os municípios nesta sexta-feira (2), mais uma vez, para que corrijam os registros no sistema, ressaltando que a funcionalidade de correção, por parte do Ministério da Saúde, só foi disponibilizada há 15 dias.
NOTA DA PREFEITURA DE FOZ DO IGUAÇU
Depois da divulgação da matéria da Folha de São Paulo e das informações do Governo do Paraná sobre as vacinas vencidas, a prefeitura de Foz do Iguaçu emitiu nota alegando que das 129 doses vencidas nenhuma foi usada. Essa informação contraria os dados do sistema do Ministério da Saúde publicados nesta sexta-feira. Leia a íntegra da nota da prefeitura de Foz:
Em relação à matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo e replicada por outros veículos de comunicação, a Secretaria Municipal de Saúde de Foz do Iguaçu esclarece que não foram aplicadas doses vencidas de vacinas contra a covid-19 no município. Houve uma falha na seleção dos lotes no sistema. O Município recebeu no dia 24 de janeiro 2.460 doses do lote informado na reportagem, com vencimento no dia 14 de abril. Todas essas doses foram aplicadas até o dia 8 de fevereiro.
Desde o início da campanha de imunização, em janeiro deste ano, a Secretaria de Saúde tem adotado como premissa não deixar vacinas paradas, utilizando diversas estratégias, como agendamento e a aplicação de doses nas unidades básicas de saúde, para que a imunização da população ocorra da forma mais breve possível. Essa agilidade na aplicação das vacinas dificulta, ainda, que aconteça uma situação como o vencimento das doses.
O QUE FAZER
Caso você tenha recebido vacina da AstraZeneca de um dos oito lotes após a data de vencimento, procure um posto de saúde com sua carteira de vacinação para registro do erro vacinal e para receber orientações. Além disso, de acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19, quem tomou imunizante vencido, se for o caso, precisa se revacinar pelo menos 28 dias depois de ter recebido a dose administrada equivocadamente. Na prática, é como se a pessoa não tivesse se vacinado.
REAÇÕES
Ao Ombudsman da Folha de São Paulo.
Boa noite.
Meu nome é Flávia Trench, sou médica Infectologista atuando no interior do Paraná. Passei boa parte do meu dia respondendo a mensagens de colegas, amigos, familiares e pacientes preocupados a respeito da notícia veiculada pela Folha de São Paulo no dia de hoje, alegando que lotes vencidos da vacina ASTRA ZENECA foram administrados na população em diversos locais do país.
Errar é humano, mas acho próximo do impossível ter ocorrido o que a notícia relata, já que um dos profissionais de saúde mais obcecados com lotes, validade, doses e checagens é justamente o profissional de sala de vacina, e entendo ser muito pouco prováveis doses vencidas terem sido administradas em tantos municípios diferentes. Um erro pontual, aqui ou acolá seria plausível, mas este equívoco generalizado acredito ser pouco possível.
A partir do final da tarde passo a receber notícias de diversos municípios desmentindo a notícia, mas o estrago já está feito.
Num enfrentamento a Pandemia que tem se destacado muito mais pela guerra de narrativas do que pela eficiência técnica da sua condução vem a FOLHA de SÃO PAULO e publica (a meu ver sem a investigação aprofundada que a delicadeza da situação requeria) uma matéria com este teor bombástico.
O Brasil sempre teve um PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÕES (PNI) extremamente efetivo – digo sem medo de errar que somos o país com maior expertise em campanhas de vacinação em massa. Tínhamos o potencial para ter sido a primeira nação no mundo a iniciar e finalizar a imunização de sua população, mas não foi o que se viu: atraso nas compras, notícias desconexas semeando insegurança para receber a vacina, algumas pessoas querendo “escolher” vacina, outros entrando na fila várias vezes e agora para jogar a pá de cal a imprensa vem e publica uma bomba dessas sem mais aquela.
Todas as atitudes que atrasam o andamento da vacinação, mantém a população em risco, facilitam a circulação viral, o aparecimento de novas variantes mais transmissíveis/agressivas e prejudicam nossa vida e a mantém a economia na descendente.
Talvez esta publicação tenha sido um dos maiores desserviços que a imprensa brasileira cometeu nesta Pandemia. Espero sinceramente que a apuração dos fatos e o eventual mea culpa tenha tanto destaque quanto a reportagem veiculada.
Ah, e por favor, que não usem a desculpa de que “consultamos fontes oficiais” porque todo mundo sabe muito bem que há um delay considerável entre a informação digitada no município e a chegada dos registros no Ministério da Saúde.
Atenciosamente.
Dra. Flávia Trench – CRM 12550-PR
Professora Assistente do Curso de Medicina da UNILAEndereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/5160846767354774
Foz do Iguaçu, 2 de Julho de 2021
(Da Redação do IGUASSU News)