Usina Nuclear: ANGRA 1 SÓ TEM OPERAÇÕES GARANTIDAS ATÉ 2024

Vida útil a unidade é de 40 anos; Eletronuclear tenta estender o prazo em duas décadas.

Em meio a uma crise energética que não tem previsão de chegar ao fim, o Brasil se vê ameaçado de ter que parar as atividades de sua primeira usina nuclear. Inaugurada em 1985, Angra 1 foi concebida com vida útil de 40 anos. O prazo expira em 2024 e, para que a unidade possa continuar funcionando, a Eletronuclear depende de uma nova autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que analisa um pedido já apresentado pela empresa, subsidiária da Eletrobras.

A companhia pediu a prorrogação do prazo por mais 20 anos, o que a permitiria continuar a operação de Angra 1 até 2044. Caso ela não seja concedida, as atividades serão obrigatoriamente paradas. Assim, a empresa, que planeja também a retomada das obras da usina nuclear  de Angra 3 — iniciadas em 1984 e paradas desde 2015, por escândalos de corrupção da Operação Lava Jato –, manteria apenas Angra 2 em funcionamento até 2026. Essa é a data prevista para a conclusão das obras da terceira unidade.

Segundo a Eletronuclear, o pedido de prorrogação foi apresentado em 2019, com documentos que informam sobre a rotina de funcionamento de Angra 1 e o monitoramento do envelhecimento da unidade, seguindo parâmetros estipulados pela CNEN e pela Comissão Reguladora Nuclear dos Estados Unidos. A estatal fez um programa de extensão de vida útil da usina, com custo estimado em 300 milhões de dólares (R$ 1,66 bilhão).

“Os recursos financeiros necessários à execução desses projetos de modernização e de melhorias de segurança de Angra 1 estão sendo negociados com o Banco Santander, o Banco de Exportação-Importação dos Estados Unidos (Exim Bank) e a Eletrobras”, informa a Eletronuclear, por meio de nota.

De acordo com a estatal e a CNEN, a prorrogação do licenciamento é feita em etapas. A próxima é a terceira reavaliação periódica de segurança, que ocorrerá em dezembro de 2023 e segue diretrizes da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). “Este será o principal marco do processo de licenciamento para a operação de longo prazo de Angra 1”, cita a Eletronuclear em outro trecho da nota.

A CNEN confirmou ter recebido o pedido e destacou ter elaborado duas notas técnicas com os requisitos necessários. “A avaliação está em andamento. Existe documentação complementar que ainda será submetida para avaliação, como, por exemplo, resposta a exigências geradas em auditorias já realizadas e o relatório da terceira e última reavaliação periódica de segurança, em desenvolvimento, com previsão de ser entregue em 2023”, informou a comissão a respeito do pedido da Eletronuclear.

Professor do curso de Engenharia Nuclear da UFRJ, um dos poucos do país nessa área, Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobras, destaca que a prorrogação da vida útil de usinas nucleares tem ocorrido no mundo inteiro, mas reforça os cuidados necessários para que isto aconteça.

“Nunca é uma prorrogação deste tipo de dá apenas de forma documental. Ela sempre vem acompanhada de medidas de substituição de equipamentos e análise do reator. Todo reator é um sistema muito delicado, apesar de grande. É como um grande relógio. O reator de Angra 1 é de uma tecnologia dos Estados Unidos. Provavelmente, eles vão contratar uma empresa de lá que supervisione essa revisão”, afirma o especialista.

Embora tenha pedido a prorrogação da vida útil da usina em 2019, a Eletronuclear destaca que começou a tomar medidas para conseguir a extensão em 2002, e que isso inclui a troca de geradores a vapor, ocorrida em 2009, e a substituição da tampa do vaso de pressão do reator, realizada em 2013.

Com as duas usinas, o parque nuclear de Angra dos Reis tem 2.013 megawatts (MW) de capacidade instalada, o equivalente a 1,1% da matriz energética brasileira. Pode parecer pouco, mas a energia nuclear alimenta 30% da demanda de todo o Rio de Janeiro, percentual que pode chegar a 50% em 2026, em caso de prorrogação das operações de Angra 1, combinada com o início das atividades de Angra 3.

(Da Redação com CNN/Foto: Saulo Cruz/MME)

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