O site Transfermarkt, especializado em transferências no mundo, avalia o elenco do Palmeiras em 143,2 milhões de euros, cerca de R$ 893 milhões.
O Flamengo é avaliado em 148,6 milhões de euros, cerca de R$ 930 milhões.
Uma diferença de cerca de R$ 37 milhões.
O segundo elenco mais valorizado do país está sendo tratado, no Brasil, no Uruguai e na América do Sul como um todo, como mera zebra, coadjuvante na decisão da Libertadores, marcada para amanhã às 17 horas.
O acesso de jornalistas e de torcedores é muito maior no hotel do clube carioca. Os jogadores são perseguidos com adoração. Ao contrário do time paulista.
A situação era prevista por Abel Ferreira.
Mas está indo muito além.
E o que decidiu fazer o português?
Deixar o acesso ainda mais difícil.
Ele quer, e está conseguindo, que o elenco fique isolado em Montevidéu. E as imagens de inúmeras matérias de frenesi, dos torcedores flamenguistas e jornalistas cercando o ônibus do time de Renato Gaúcho, são distribuídas aos atletas.
Ou seja, Abel Ferreira trabalha mentalmente seu time, o atual campeão da Libertadores, deixado em segundo plano. Desprezado como coadjuvante.
O discurso é inflamado por Felipe Melo, confirmado na partida.
Sua frase, batida, desde os tempos de José Mourinho, em 2004, é repetida como um mantra entre os palmeirenses:
“Final não se joga, se ganha”.
Abel Ferreira defende uma mais poética: “Todos somos um”.
Mas o treinador não fica apenas na neurolinguística. Nos treinos, ele tem insistido com Felipe Melo, Danilo, Zé Raphael e Raphael Veiga no meio-campo, com o auxílio de Dudu e Rony. Alternando marcação na saída de bola do Flamengo. Com as linhas baixas, e subidas, de surpresa, de Maike e Piquerez.
Abel quer esfacelar o cérebro flamenguista. Travar Everton Ribeiro e Arrascaeta. Não permitir que eles alimentem Gabigol e, principalmente, Bruno Henrique. Felipe Melo e Danilo devem proteger a entrada da área de qualquer maneira. Andreas Pereira também não passa despercebido, longe disso. Zé Rafael terá de se desdobrar para ser mais agressivo na marcação do ótimo meio-campista.
O plano é deixar Raphael Veiga mais livre para articular com Dudu e Rony, nas costas de Isla e Filipe Luís.
O português tem insistido muito na compactação do time, sem a bola. Já que o Palmeiras “é zebra”, que se porte como tal. Apostando na ansiedade do Flamengo para decidir a final logo no começo do jogo, o que pode deixar espaços importantes para os contragolpes em velocidade de Dudu e Rony, abertos como pontas antigos.
Além disso, a bola aérea defensiva é considerada o ponto fraco da defesa flamenguista. Abel não quer “chuveirinhos”, ou seja, bolas levantadas de qualquer maneira. Mas cruzamentos da linha de fundo. Há estudo palmeirense que mostra que Rodrigo Caio e David Luiz ainda não têm entrosamento ideal. O que é um importante trunfo.
A direção do Palmeiras e a cúpula da Crefisa já acertaram a premiação em caso de tricampeonato da Libertadores. Tudo está resolvido. Serão R$ 30 milhões para a divisão entre os atletas. A patrocinadora, outra vez, oferece R$ 12 milhões.
O restante virá, se o time for vitorioso, da premiação da Conmebol pelo título. Serão 15 milhões de dólares, cerca de R$ 84,1 milhões, para o campeão. E 6 milhões de dólares, cerca de R$ 33,6 milhões, para o vice.
Abel orientou ainda seus atletas para que não deixassem escapar declarações que desafiassem o Flamengo publicamente.
Muito pelo contrário.
Ele prega a postura humilde, tranquila.
Mas o treinador e seus jogadores sentem o desprezo.
Apesar de atuais campeões da Libertadores, são tratados como meros sparrings do Flamengo.
Time que vai entrar no gramado do Centenário com o roteiro definido.
O de time inferior, pronto para perder a final.
Nesse menosprezo está a maior arma de Abel Ferreira.
Disposto a calar quem duvida da força da Sociedade Esportiva Palmeiras.
Como se todos estivessem se esquecido.
No fim de janeiro, ele levantava o cobiçado troféu.
Vencia a Libertadores.
Não aceita ser tratado como coadjuvante do Flamengo…