Por conta da sua bem comprovada correlação com geração de valor, a gestão de aspectos ESG ganhou protagonismo nos ambientes de tomada de decisão em empresas de diferentes setores. Uma pesquisa realizada pelo Global Network of Director Institutes, por exemplo, mostrou que 85% das pessoas em conselhos de administração acreditam que no longo prazo será maior o foco nos temas ESG, em linha com as ideias do capitalismo de stakeholders.
A ideia de Criação de Valor Compartilhado, criada por Porter e Kramer em um famoso artigo no qual argumentam que estratégias de responsabilidade social corporativa (RSC) podem representar vantagens competitivas, quando se conectam com a própria estratégia de negócio.
“Se as empresas analisarem suas atuações de responsabilidade social usando as mesmas estruturas que orientam suas principais escolhas de negócios, elas descobrirão que a RSC pode ser muito mais do que um custo, uma restrição ou uma ação de caridade — ela pode ser uma fonte oportunidade, inovação e vantagem competitiva”.
O conceito é do começo dos anos 2000 mas já se tornou amplamente conhecido. O mercado hoje entende que gerir aspectos de sustentabilidade é sinônimo de prevenção de crises e geração de valor. Isso está refletido em dados locais, como o que levantamos na pesquisa feita pela Beon e pelo Instituto FSB Pesquisa: riscos socioambientais estão mapeados na estratégia de 70% das empresas brasileiras de grande e médio porte.
Análises de contexto social, ambiental e político são feitas em 63% dos casos. Além disso, 79% afirmam que questões sociais relevantes estão presentes na estratégia.
Por outro lado, a ação prática não acompanha o nível de conscientização sobre o tema. Nossa pesquisa identificou que a gestão dos temas ESG relevantes é feita por apenas 22% das empresas. Esse descompasso entre intenção e implementação gera críticas da sociedade civil.
Uma das vozes destacadas é Anand Giridharadas, que no livro Winners take all (Editora Vintage, 2019. Sem tradução para português) classifica iniciativas de RSC, sustentabilidade ou valor compartilhado como mecanismos criados para evitar mudanças sistêmicas.
“Não há como negar que a elite de hoje esteja entre as elites mais socialmente engajadas da história. Mas também é, pela fria lógica dos números, uma das mais predadoras da história. Ao recusar-se a arriscar seu modo de vida, rejeitando a ideia de que os poderosos possam ter que se sacrificar pelo bem comum, apega-se a um conjunto de arranjos sociais que lhe permitem monopolizar o progresso e depois dar fragmentos simbólicos aos abandonados — muitos dos quais não precisariam das esmolas se a sociedade estivesse funcionando corretamente”.
Além de reforçar a necessidade de desenvolver soluções sistêmicas, as críticas refletem o alto nível de desconfiança da sociedade nas instituições públicas ou privadas, que tem sido estudada por pesquisadores das áreas de psicologia e economia comportamental como Dan Ariely.
“Ficamos mais desconfiados – não apenas daqueles que estão tentando nos enganar, mas de todos. […] Acredito que as empresas que desejam ter sucesso percebam que honestidade, transparência, consciência e negociação justa devem ser os princípios corporativos fundamentais.” Diante deste cenário, ganha destaque o papel da transparência como mecanismo para superar a desconfiança em relação às empresas.
Outro aspecto fundamental é uma postura de humildade para aprendizado. É muito comum que organizações e indivíduos acostumados a ocupar posições de liderança não consigam se colocar como ouvintes. O poder traz consigo um entorno que distorce a realidade: pequenos acertos são destacados enquanto inconsistências são jogadas para baixo do tapete.
O costume de ouvir elogios continuamente, sem o equilíbrio de buscar pontos de melhoria leva à falsa percepção de que é possível ensinar o que ainda não aprendeu. Quando essa postura é adotada, a desconfiança e críticas são fortes – e merecidas.
Aprender a ouvir, aprender a aprender e demonstrar humildade são o antídoto para o veneno da presunção. Afinal, sustentabilidade é ubuntu — um caminho que se faz em conjunto com solidariedade, respeito, cooperação, acolhimento e generosidade — eu sou porque nós somos.