Foz do Iguaçu: COM APOIO DA ITAIPU, ESPECIALISTAS DISCUTEM ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO DA HARPIA

Objetivo é encontrar caminhos que envolvam pesquisadores, instituições e entidades públicas e privadas a trabalhar juntas para avançar em ações concretas para a conservação da espécie.

Especialistas em harpia, translocação e conservação da natureza do Brasil e do exterior vão se reunir em Foz do Iguaçu (PR), de 7 a 10 de junho, para discutir estratégias para a conservação da espécie em florestas do Sul do país, na Argentina e no Paraguai. A Oficina de Avaliação de Manejo Integrado para Conservação da Harpia na Mata Atlântica, com foco na região Sul, é uma das ações do convênio firmado entre a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e a Itaipu Binacional.

Também apoiam e organizam a iniciativa entidades como IUCN SSC Grupo Especialista em Planejamento de Conservação (CPSG) | Centro de Sobrevivência de Espécies Brasil (CSE Brasil), Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (Azab).

A oficina acontece em Foz do Iguaçu, em razão do envolvimento direto da Itaipu Binacional com os esforços para a proteção da harpia. O Refúgio Biológico Bela Vista, criado pela empresa em 1987, é responsável pelo maior programa de reprodução de harpias do mundo. Desde 2009, já nasceram no local 56 harpias e sobreviveram 38, um número bastante expressivo para uma espécie que sofre um risco agudo de extinção.

Atualmente, o local conta com seis casais reprodutores, sendo que o primeiro indivíduo, um macho, chegou em 2000, após ser encontrado em uma caixa de papelão na BR-277, quando ainda era um filhote. A taxa de sobrevivência dos filhotes nascidos no Refúgio é de até 80%.

Ave mais forte do mundo

A harpia (Harpia harpyja), habitante de florestas tropicais da América Central ao Sul, incluindo a Mata Atlântica, é considerada a ave de rapina mais forte do mundo e está ameaçada de extinção, em virtude da supressão florestal na Mata Atlântica. Mais de 90% da Mata Atlântica foi devastada ou degradada desde o período de colonização do Brasil.

Foto: João Marcos Rosa.

Com isso, a espécie passou a ter dificuldade para encontrar recurso alimentar – como preguiças e macacos, que só existem em florestas bem conservadas – e também árvores altas para a construção de seus ninhos. Eles têm cerca de dois metros de diâmetro e são construídos, principalmente, em árvores emergentes.

A ave só sobrevive em florestas ricas em biodiversidade, também chamadas de antigas ou primárias, por ser um animal topo de cadeia e depender de um ecossistema completo e equilibrado para se alimentar, como também é o caso da onça-pintada, por exemplo.

Por ser uma ave muito grande – as fêmeas podem chegar a nove quilos e ter uma envergadura de mais de dois metros de comprimento – precisa de espaço para voar e pousar na copa de árvores, daí a importância da existência de áreas naturais conectadas, que reúnem unidades de conservação, como reservas biológicas, parques nacionais, estações ecológicas e reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs).

“Não há como falar sobre conservação e aumento da população de harpias na natureza, sem tratar da necessidade do investimento em conservação e proteção de florestas maduras. O investimento na conservação das florestas é tão urgente quanto a conservação da harpia em si”, explica Roberta Boss, técnica do projeto na SPVS.

A SPVS é responsável pela análise da qualidade de ambientes das áreas de maior remanescente de Mata Atlântica, na região Leste, inserida na área da Grande Reserva Mata Atlântica, e na porção Oeste, na região de Foz do Iguaçu.  Também conduz outras ações estratégicas de conservação da harpia no estado do Paraná.

Foto: João Marcos Rosa.

Redução do habitat natural

Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), campus de Alta Floresta, em colaboração com cientistas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e instituições de Israel, Inglaterra e Estados Unidos, mostrou que a redução da área de distribuição neotropical da harpia já chega a mais de 40%. O estudo foi divulgado em 2019 pela revista internacional Plos One.

Se nada for feito, é uma questão de tempo até que a distribuição da espécie fique restrita somente à Amazônia. Hoje, mais de 90% da distribuição geográfica da harpia se encontra nessa região por conta da baixa densidade populacional e da presença de florestas em melhor estado de conservação.

Entretanto, apesar de ser considerada uma extensa fortaleza da conservação para as harpias, a Amazônia tem diversas fragilidades. A degradação do habitat pelo corte seletivo de madeira e a captura e morte das aves deixam a espécie vulnerável também nesta região.

No passado, o Estado do Paraná chegou a ser o lar perfeito para a harpia. O território era predominantemente florestal, coberto com quase 100% de Mata Atlântica. Mas a expansão das atividades humanas, a exploração e devastação das florestas causaram a perda do ambiente da espécie e, consequentemente, limitaram suas opções de alimentação e as áreas para a reprodução. Ironicamente, a harpia continua figurando em destaque no brasão do Paraná. Mesmo assim, graças aos esforços de pessoas e entidades que atuam em prol da conservação do patrimônio natural no Estado, ainda existem importantes remanescentes florestais do Paraná que poderiam ser considerados para comportar, em médio e longo prazos, a existência desses animais.

Com a oficina, espera-se encontrar caminhos que envolvam pesquisadores, instituições e entidades públicas e privadas a trabalhar juntas para avançar em ações concretas para a conservação da espécie.

(Com JIE)

leave a reply