Coluna Caio Gottlieb: RIO DE CÉU, DE SOL, DE MAR E DE HISTÓRIA

Bastaria tão-somente ficar apreciando a beleza inigualável de suas praias e montanhas pra valer a pena qualquer viagem ao Rio de Janeiro. Mas, como lembra a famosa canção, a eterna Cidade Maravilhosa está cheia de encantos mil, muito além de sua exuberante natureza, a merecerem o nosso olhar.

Sempre que tenho a oportunidade de revisitá-la procuro descobrir alguns desses tesouros, vários deles esquecidos e praticamente ignorados, que desafiam o tempo e o descaso dos governantes para manter vivo o rico legado da ex-capital imperial do país.

Pra não perder o costume, cumpri novamente esse ritual quando lá estive dias atrás para uma breve agenda de trabalho.

Motivado pelas notícias sobre a impecável revitalização promovida no local, fui conhecer o lendário e pitoresco Largo do Boticário, no tradicional bairro do Cosme Velho.

Para contextualizar o assunto, reproduzo um pequeno relato do jornalista Thiago Gomide: “Entrar no Largo do Boticário é um encontro com o Rio antigo. Os bancos, os casarões e o rio Carioca nos levam para vários séculos de caminhada. Há muitos mitos envolvendo o rio Carioca. Os índios acreditavam que quem bebesse as suas águas teria benefícios estéticos, de saúde.”

Gomide chama a atenção para uma das vertentes históricas desses relatos que afirma que as pessoas que nascem no Rio de Janeiro são chamadas de cariocas por causa desse bucólico riacho.

Obviamente, o nome do logradouro homenageia um boticário, que era quem, à época, trabalhava com loções, xaropes e medicamentos. O profissional em questão tratava-se de Joaquim Luís da Silva Souto, que tinha uma loja na antiga rua Direita, hoje Primeiro de Março, no centro da cidade. Ele mudou para o Largo em 1831. Os clientes eram celebridades. A família real, por exemplo, ia em peso. Na loja e no Largo.

Largo do Boticário como está hoje, após restaurado.

Com o fim do império e as transformações sociais, políticas e econômicas que mudaram as feições da cidade e do país, o local foi perdendo relevância e caiu no ostracismo.

Depois de quase duzentos anos de abandono, eis que em 2017 a rede hoteleira francesa Accor decide desembolsar 17 de milhões de reais para adquirir o conjunto de casas, já em ruínas, que compõe o velho e charmoso beco.

Fechado o negócio, a companhia deu início à restauração dos sete imóveis que integram a propriedade, todos tombados pelo patrimônio histórico do estado, executando um primoroso projeto de recuperação que reconstituiu com extrema fidelidade a arquitetura original.

Dona das marcas de luxo Fairmont e Sofitel, além de Mercure, Novotel, Pullman e MGallery, entre outras, a Accor investiu 40 milhões de reais para instalar na edificação um hotel com 80 quartos de sua bandeira Jo&Joe, de estilo mais descolado, que inaugura em julho.

Veja nas fotos e no vídeo aqui postados a situação em que se encontrava o Largo do Boticário e como ele está agora.

O que aconteceu ali, pelas mãos de uma multinacional estrangeira, foi uma demonstração de cidadania e de amor à preservação da memória de uma das metrópoles mais lindas do mundo.

Espera-se que outras grandes empresas, especialmente as brasileiras, sejam inspiradas e tocadas a seguir o magnífico exemplo.

A situação em que se encontrava o Largo do Boticário

(Leia a Coluna Caio Gotlieb também pelo link: caiogottlieb.jor.br)

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