Há 50 anos, a Venezuela: ASSENTADA SOBRE AS MAIORES RESERVAS DE PETRÓLEO DO MUNDO, ERA UM DOS PAÍSES MAIS RICOS DA AMÉRICA LATINA

Há 50 anos, a Venezuela, assentada sobre as maiores reservas de petróleo do mundo, era um dos países mais ricos da América Latina.

Mas se o ouro negro fez por um tempo a fortuna dos venezuelanos, a dependência dele também fez a sua miséria. Uma baixa de duas décadas nos preços do petróleo ajudou o demagogo Hugo Chávez a assumir o poder em 1998. O boom nos anos 2000 possibilitou-lhe vender a grande primavera socialista nas Américas como um ouro de tolo.

Mas desde 2013, quando o ciclo acabou, Chávez morreu e o ex-motorista de ônibus Nicolás Maduro assumiu, a economia encolheu três quartos. Cerca de 7 milhões de venezuelanos (um quarto da população) fugiram. Hoje os aposentados recebem US$ 5 por mês. O salário mínimo é US$ 3,2. Segundo a ONU, 6,5 milhões de venezuelanos passam fome; 4,1% das crianças sofrem desnutrição aguda e quase 40% não estudam.

Em 2019, Maduro fraudou as eleições e fabricou um legislativo biônico. Já não há concursos públicos para a magistratura e as Forças Armadas trocam lealdade por vistas grossas aos seus negócios corruptos.

O Tribunal Penal Internacional investiga o regime por 5 dos 11 crimes contra a humanidade estabelecidos no Estatuto de Roma, assinado pela Venezuela: assassinatos e ferimentos; privação de liberdade; destratos e tortura; crimes sexuais e perseguição. Só entre 2016 e 2019, segundo dados oficiais, as forças de segurança executaram extrajudicialmente 19 mil pessoas alegando “resistência à autoridade”. Desde 2014, mais de 15 mil civis foram detidos arbitrariamente.

A trágica ironia é que, além das vítimas usuais, como políticos de oposição e jornalistas, os setores da população mais violentados são justamente os que a esquerda jura defender, como trabalhadores de base, sindicalistas, camponeses e indígenas. Há relatos regulares de que o regime, quando não executa os dissidentes, não só os submete a torturas indizíveis – como eletrochoques na genitália dos homens ou estupro das mulheres –, mas os intimida com agressões às suas famílias: mães são obrigadas a se despir na frente de seus filhos, que chegam a testemunhar ameaças de crucificação. Segundo a ONG venezuelana Ação em Direitos Humanos, só em 2022 houve 2.203 vítimas de violações à integridade pessoal – um aumento de 68,6% em relação a 2021.

O desesperador é que, por uma conjunção de fatores externos e internos, a autocracia de Maduro está possivelmente mais forte do que nunca.

O choque na cadeia energética precipitado pela guerra na Ucrânia elevou os preços do petróleo ao mesmo tempo que obrigou países ocidentais a buscarem alternativas à Rússia. Os americanos aliviaram suas sanções e, em parte por isso, a economia cresceu 6% em 2022. A nova onda de líderes de esquerda na América Latina, como Lula ou Gustavo Petro na Colômbia, colabora para legitimar o regime. O jovem presidente esquerdista do Chile, Gabriel Boric, chegou até a fazer reprimendas aos regimes venezuelano e nicaraguense, mas sua convicção é questionável: mesmo ele resiste a superar nostalgias da esquerda e a criticar a ditadura cubana, um dos sustentáculos de Maduro, junto com Rússia, China e Irã.

Pouco se pode esperar das eleições de 2024. Reprimida por fora, a oposição está desorientada por dentro e parece incapaz de se unir para viabilizar candidaturas competitivas. De resto, nesse estado de coisas, Maduro não concederá a supervisão de observadores internacionais para garantir um pleito limpo.

O sentimento triunfalista do déspota foi resumido em uma de suas entrevistas semanais na TV estatal. “É hora de uma nova geopolítica redistribuir o poder no mundo”, disse. “Esta guerra na Ucrânia é parte das dores de crescimento de um novo mundo que está nascendo. Não tenham dúvidas de que eu estarei lá na vanguarda.”

Resta saber se, diante das terríveis violações de direitos humanos na Venezuela, fartamente documentadas por instituições independentes, ainda haverá quem não só evite condenar Maduro nos mais duros termos, como, pior, esteja ao lado do tirano venezuelano nessa “vanguarda” da truculência e da desumanidade, em nome de afinidades ideológicas imorais.

 

 

(Da Redação com O Sul – Foto: Reprodução)

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