Um em cada cinco jovens entre 15 e 29 anos não estudava nem trabalhava em 2022, totalizando 10,9 milhões de indivíduos, ou uma fatia de 22,3% do grupo etário.
Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2023, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (6).
Deste total de “nem-nem”, 43,3% eram mulheres pretas ou pardas, 24,3% eram homens pretos ou pardos, 20,1% eram mulheres brancas e 11,4% eram homens brancos.
Os dados ainda mostraram que, no ano passado, 4,7 milhões de jovens não procuraram emprego nem gostariam de trabalhar. Dentro desse grupo, estavam 2 milhões de mulheres responsáveis por cuidar de parentes ou de trabalhos domésticos.
“O trabalho do cuidado — seja em relação aos filhos dependentes, ou aos pais com idade mais avançada, ou mesmo ao cônjuge e outras pessoas de um círculo mais próximo — é muito mais delegado e executado pela mulher, independentemente da sua idade”, reforça a pesquisadora da FIA Employee Experience, Lina Nakata.
“Muito mais mulheres nem mesmo procuram emprego por estarem envolvidas com essas atividades invisíveis e não remuneradas na maior parte das vezes. Com isso, a invisibilização do trabalho da mulher gera ainda mais iniquidade na sociedade e também no mercado de trabalho”, conclui.
Com a pandemia, a proporção de jovens “nem-nem” saltou de 24,1% em 2019 para 28% em 2020. Desde então, o número registrou duas quedas seguidas até chegar ao patamar de 2022.
Contudo, o analista socioeconômico do IBGE, Jefferson Mariano, aponta que a queda foi puxada pelo aumento dos jovens que buscam dar enfoque ao trabalho.
“[São pessoas que] deixaram o estudo para segundo plano”, explica Mariano. “Lembrando que no Brasil ainda é bastante baixa a presença desses jovens no ensino superior”.
De acordo com o IBGE, dos quase 11 milhões de jovens que não estudam e seguem desempregados, 61,2% se encontram abaixo da linha da pobreza. Dentro desse recorte, 47,8% eram mulheres pretas ou pardas.
Para o analista do IBGE, os dados denunciam desigualdades sociais que são frutos de um quadro estrutural de disparidades.
“Ainda há um problema com relação ao acesso e, especialmente, a permanência dessas pessoas na escola”, pontua Mariano.