Marito: APÓS REFORMA MINISTERIAL, PARAGUAI TEM NOVA NOITE DE PROTESTOS CONTRA PRESIDENTE

Oito pessoas foram presas em tentativa de invadir a residência oficial de Abdo Benítez

A madrugada de domingo (7) começou com novo enfrentamento entre manifestantes e forças de segurança no Paraguai, após uma tentativa de forçar a entrada da residência presidencial, a Mburuvicha Róga, em Assunção. Oito manifestantes chegaram a ser presos, mas já foram soltos, segundo o jornal local ABC.

Ao longo da noite, as ruas da capital voltaram a se encher de ativistas que, de modo pacífico, em maioria, reclamavam da atuação do presidente Mario Abdo Benítez no enfrentamento da pandemia de coronavírus. No fim da tarde deste domingo, centenas iniciavam o terceiro dia de protesto nas imediações da residência presidencial, que teve reforço de segurança da Polícia Nacional. Para evitar novas tentativas de invasão, a região foi cercada.

Uma manifestação contra o ex-presidente Horacio Cartes está marcada para esta segunda-feira (8), no final do dia. Porém, centenas de manifestantes que se encontravam na tarde de domingo (7) diante da residência presidencial, onde vive o mandatário Mario Abdo Benítez, preferiram ir nesta mesma noite até a residência do líder do partido Colorado.

Cartes vive numa região nobre de Assunção, na avenida Espanha. O ex-mandatário controla os votos do Honor Colorado, corrente majoritária no Congresso que pode definir se haverá ou não um julgamento político de Abdo Benítez, que também pertence ao Colorado, mas de um setor minoritário.

Manifestante no Paraguai (06 março 2021)

Ao chegarem na casa de Cartes, os manifestantes deram de cara com uma fileira de policiais que cercavam a entrada com escudos, assim como duas viaturas. Muitos se manifestavam pacificamente. Porém, por volta das 23h, um grupo lançou pedras e avançou contra os policiais, que dispararam tiros de borracha. Segundo pessoas que estavam no local, houve cinco pessoas feridas.

“Não era essa a ideia, viemos aqui para escrachá-lo, para pressionar a renúncia de Marito”, disse à Folha Raul Tejero, 26, que afirmou estar se manifestando desde a sexta-feira. “Agora nós vamos até o fim. Esse troca-troca de favores, de cargos de ministros que está havendo não vai acalmar nossos ânimos. Chega de decisoes politicas de conveniencia, decididas a quatro portas”, disse. Algumas pessoas carregavam cartazes que diziam “Marito, renuncie” e “Marito = Morte”.

Os protestos foram motivados por um aumento dos casos do coronavírus e a falta de vacinas. De acordo com a mídia paraguaia, os manifestantes afirmam que irão manter as mobilizações até que os chefes do Executivo se retirem. Eles reivindicam mais insumos, leitos de hospitais e vacinas contra a Covid-19 —nos cartazes, questionam também as restrições impostas pelo governo: “ficamos trancados por nada”.

Paraguai tem onda de protestos contra má gestão da pandemia - Tribuna de  Minas

Desde a noite de sexta-feira (5), protestos pedem a renúncia do mandatário de centro-direita, aliado do presidente Jair Bolsonaro no Mercosul. Na primeira fase da pandemia, o Paraguai conseguiu manter baixos os níveis de contaminação com medidas de quarentena severas, mas a chegada de novas variantes, inclusive a brasileira, tem aumentado o número de infecções e pressionado o sistema de saúde.

A crise sanitária já havia causado, na semana passada, o afastamento do ministro da Saúde, Julio Mazzoleni. Depois de passar praticamente todo o sábado (6) reunido com ministros e apoiadores, Abdo Benítez fez um pronunciamento pedindo união e respeito aos protocolos de segurança, ao mesmo tempo em que avisou que, nos próximos dias, seriam divulgadas mudanças em seu gabinete.

Horas depois, anunciou a primeira parte da reforma ministerial. O nome mais aguardado era o do novo ministro da Saúde, que será o cardiologista Julio Borba, que assume com a missão de conseguir mais contratos de vacinas. Também saíram o ministro da Educação e a da Mulher, além do chefe de gabinete, Juan Ernes Villamayor.

Protestos no Paraguai pedem saída de presidente por má gestão da pandemia -  Mundo - Diário do Nordeste

O presidente busca evitar um julgamento político, que no Paraguai é muito parecido com o “impeachment” do Brasil, mas pode ocorrer de modo muito mais rápido se há maioria. Por enquanto, seu partido, o Colorado, está rachado entre um grupo menor, que é leal ao presidente, e um grupo mais numeroso de parlamentares da corrente Honor Colorado, aliada ao ex-presidente Horacio Cartes. Foi a Honor Colorado que apoiou Abdo Benítez em 2018 e garantiu que ele não caísse após um escândalo relacionado à empresa binacional Itaipu.

Por enquanto, Abdo Benítez conta novamente com esse apoio, mas outros partidos da oposição pedem que, na segunda-feira (8) se debata o julgamento político. O fato de as manifestações de rua estarem intensas pode levar Cartes a mudar de ideia.

OPOSIÇÃO PEDE IMPEACHMENT DE PRESIDENTE DO PARAGUAI

Os dois principais grupos políticos de oposição no Paraguai, a Frente Guasú, do ex-presidente Fernando Lugo, e o Partido Liberal, articulam um pedido de impeachment do presidente Mario Abdo Benítez. O líder paraguaio é alvo de protestos de rua contra a má gestão da pandemia desde a sexta-feira (5), que já deixaram ao menos um morto no país.

É crucial para o sucesso do movimento opositor a adesão de uma facção do Partido Colorado liderada pelo ex-presidente Horacio Cartes. Apesar de dividirem o mesmo partido, Abdo e Cartes são rivais. Na última crise política paraguaia, durante a polêmica sobre a venda de energia de Itaipu a uma empresa brasileira, em 2019, foi o apoio dessa facção, chamada Honor Colorado, que impediu o afastamento de Abdo.

Protestos no Paraguai pedem saída de presidente por má gestão da pandemia -  05/03/2021 - Mundo - Folha

No sábado, Abdo mudou quatro membros de seu gabinete e prometeu dialogar. “Sou uma pessoa de diálogo e não de confronto, e meu compromisso é ouvir a todos, tanto os que aprovam nosso governo como os que não o fazem, retificar o rumo, prestando atenção a todas as críticas. Como presidente, meu papel é servir ao nosso povo. Estou ciente de que as pessoas esperam mudanças. E eu vou fazer isso “, disse ele.

Embora ainda não tenha dado os nomes dos substitutos, o presidente paraguaio anunciou que as mudanças incluem também a Ministra da Educação, a Ministra da Mulher e o chefe do Gabinete Civil da Presidência da República.

Horas antes, o porta-voz do governo Juan Manuel Brunetti comunicou aos cidadãos que o presidente Abdo Benítez pediu a seus ministros que disponibilizassem seus cargos e que se reuniu com eles na residência presidencial para avaliar seus esforços.

Na noite desta sexta-feira, um protesto de cidadãos exigindo uma melhor gestão dos recursos contra o novo coronavírus saiu do controle e terminou em tumultos. Segundo as autoridades, o protesto transbordou quando um grupo de manifestantes tentou romper as grades que protegem a área do Palácio do Governo.

O ministro Giuzzio disse que a manifestação foi pacífica por muito tempo, mas depois apareceram grupos que segundo ele causaram violência. “Esses grupos, e acho que é mais do que claro, se infiltraram nos manifestantes, geraram expressamente um motim para provavelmente causar a morte. Essa era a intenção, provavelmente financiada por pessoas que, suspeitamos quem são, vamos descobrir, porque esses grupos não vão a lugar nenhum de graça ”, acrescentou Giuzzio.

Paraguai tem segunda noite de protestos pela saída do presidente | Mundo |  G1

Segundo dados do Hospital do Trauma e do Hospital da Polícia – citados pelo jornal La Nación -, 8 civis e 12 policiais feridos foram atendidos durante a manifestação. A maioria dos civis, segundo o relatório, foi dispensada. O comandante da Polícia Nacional, Francisco Resquín, disse a diversos meios de comunicação locais que não houve feridos graves entre os policiais, embora um deles ainda esteja hospitalizado.

Julio Mazzoleni renunciou nesta sexta-feira ao cargo de Ministro da Saúde do Paraguai, após uma série de denúncias de familiares de pacientes em terapia intensiva por covid-19, que afirmaram à imprensa que o Estado não lhes fornecia remédios e que estavam se endividando para salvar seus entes queridos.

Soma-se a isso o baixo número de vacinas de Covid-19 que chegaram ao país até agora e o colapso do sistema de saúde de pacientes com o novo coronavírus, conforme relatado por vários médicos. Segundo informações oficiais, o Paraguai contratou um milhão de doses da vacina russa Sputnik V, mas recebeu apenas 4.000 doses. Além disso, o país recebeu neste sábado a doação de 20 mil doses de Coronavac doadas pelo Chile, segundo o Ministério das Relações Exteriores.

(Da redação com Folha/CNN)

 

 

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