Uma montanha de dólares depositados na China cresceu tanto que bancos do país estão tendo dificuldades de emprestá-los, e operadores dizem que isso representa um risco aos esforços oficiais de conter o iuan, que se encontra em rápida ascensão.
Impulsionado pelo forte aumento nas receitas de exportação e pelos fluxos de investimento, o valor dos depósitos em moeda estrangeira nos bancos chineses saltou para mais de 1 trilhão de dólares pela primeira vez em abril, mostram dados oficiais.
O salto anterior, ocorrido no fim de 2017, precedeu uma venda pesada de dólares, que turbinou um rali do iuan no começo de 2018.
Participantes do mercado dizem que o tamanho do estoque desta vez ainda maior eleva riscos e deixa os esforços das autoridades em conter o iuan suscetíveis ao humor e aos caprichos de exportadores e investidores estrangeiros que detêm o capital.
“Esse posicionamento em particular, em nossa opinião, é suscetível a uma capitulação caso a ampla tendência de baixa do dólar continue”, disse o estrategista de câmbio do UBS para a Ásia Rohit Arora, especialmente se o iuan se valorizar abaixo de 6,25 ou 6,2 por dólar.
“Achamos que uma quebra desses níveis… tem capacidade de afetar a mente do mercado”, disse, uma vez que esses patamares representam, aproximadamente, o pico do iuan em 2018 e seu topo antes da desvalorização em 2015, o que deflagraria vendas de dólares por empresas locais, sobretudo.
O iuan é fortemente controlado pelo governo chinês e atualmente ronda máximas em três anos, superando uma importante resistência em 6,4 por dólar e registrando em maio seu melhor mês desde novembro.
Preocupado que esse rápido aumento possa desencadear uma enorme conversão dos depósitos em iuanes, o Banco do Povo da China (BC do país) disse na segunda-feira que, a partir de meados de junho, os bancos devem aumentar as reservas para esses depósitos, uma medida que visa desencorajar um aumento do volume dos mesmos.
Nos 16 meses até abril, os depósitos em dólares aumentaram 242,2 bilhões de dólares, mostram dados do BC chinês, aumento equivalente a 1,8% do Porduto Interno Bruto (PIB) e volume maior que os vangloriados ingressos no mercado de títulos da China, que totalizaram cerca de 220 bilhões de dólares no período.
Mesmo com o superávit comercial do país em forte alta durante a pandemia e o sistema bancário convertendo 254 bilhões de dólares em iuanes para os clientes, o Banco do Povo da China retirou apenas 90,2 bilhões de dólares do sistema financeiro nesses meses.