Em tempos cada vez mais sombrios para a biodiversidade brasileira, o hotel fazenda Terra Booma, em Alto Paraíso de Goiás (GO), a 230 quilômetros de Brasília, é um oportuno refúgio para quem busca se conectar com o meio ambiente. No pé do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, com seus mais de 240 mil hectares de cerrado, o local promete aos hóspedes uma experiência de imersão total com a natureza.
Formada por seis chalés (com opções para duas ou três pessoas), cozinha e área compartilhada, a hospedagem está instalada em uma fazenda de cinco hectares onde são oferecidos cursos sobre orgânicos e fundamentos de agrofloresta, técnica que busca imitar o comportamento da natureza no cultivo da terra, em busca simultaneamente de sustentabilidade e rentabilidade.
A diária inclui meia pensão e tudo que ali é produzido —incluindo a mandioca cozida e raspada que faz a tapioca do local— pode ser degustado no café da manhã ou incluído em cestas com produtos orgânicos, como ovos caipiras, que devem ser solicitados no ato da chegada para que o hóspede possa levar para casa.
Pés de alface, maracujás, orgânicos e mandiocas dividem espaço com árvores de pinus e plantas endêmicas do cerrado, como a castanha de baru. O objetivo é formar uma combinação de plantas baixas, arbóreas-arbustivas e árvores mais altas compondo um dossel —daí o papel do pinus.
“Isto aqui era pasto quando comprei o terreno. Cheguei aqui e escutei a natureza para entender a partir dela o que era preciso fazer nessa terra”, conta Ray, 45, um dos sócios do espaço.
De origem turca, veio ao Brasil atrás do uso de plantas medicinais e da ayahuasca, chá enteógeno muito usado na região com propósitos de busca e cura espiritual. No país de origem, fundou o primeiro “aplicativo” de venda de comida por delivery, com os pedidos enviados ainda via fax. Em terras goianas, se apaixonou pela região, decidiu largar tudo e ficar por lá.
“Quando cheguei, não sabia nada de agrofloresta. Mas, da mesma forma, eu vi que era possível transformar o solo degradado com uma linha sucessiva de plantas. Eu tenho hortaliças, dois passos adiante, tomate, mais dois passos, limão, mais dois passos, brócolis, mandioca, e assim por diante, até formar a agrofloresta”, explica.
A expectativa de alcançar o pé dos morros que formam o platô característico da chapada —e por onde se expande a vegetação do cerrado—, porém, vai ficar para as próximas gerações.
“Em um tempo de uma geração a plantação ainda vai continuar aqui, mas a cada novo ciclo o solo fica mais efetivo, as plantas se desenvolvem melhor e um dia isso tudo vai virar cerrado novamente”, diz.
Quem quiser fazer uma imersão no universo da agroecologia pode optar por cursos que duram quatro semanas, com hospedagem e alimentação inclusos. Além das oficinas, a venda dos orgânicos produzidos garante a renda da fazenda, uma vez que os chalés passaram a ser ofertados para pessoas de fora da vivência agroecológica há pouco tempo.
“Tudo o que ganhamos é repassado 100% para pagar nossos funcionários e colaboradores, de forma que não ficamos com nenhum lucro”, explica Ian Lazoski, 36, o sócio brasileiro, destacando que o espaço é um negócio social.
Além de relaxar, olhar as estrelas e ouvir os sons da natureza, a região da Chapada inclui passeios como as trilhas no parque e inúmeras cachoeiras na região, são mais de 300 na área. Os turístas podem também aproveitar a estadia para “recarregar” as energias com os cristais da região —a chapada está sobre a maior reserva de quartzo do mundo.
Seja o objetivo é se isolar, se conectar com a natureza ou partir em uma busca espiritual, o local traz a tranquilidade e o clima de um acampamento, mas com conforto de pousada, incluindo banheiros privativos.
Hospedagem Terra Booma. Alto Paraíso de Goiás, Goiás. Diárias a partir de R$ 200 (o casal). Site www.terrabooma.org.
PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DOS VEADEIROS
Rod. GO 239, Vila de São Jorge. Ingressos: adulto R$ 25 (por atrativo), estrangeiros R$ 50, estrangeiros Mercosul R$ 40, e moradores da região R$ 5. Todos os dias, das 8h às 18h (entrada até meio-dia). Trilha dos Cânions e Cachoeira das Cariocas, 11 km, média dificuldade, de 4 a 8 horas.
CACHOEIRA ANJOS E ARCANJOS
Povoado Moinho Parque Solarion. Ingressos: R$ 30 por pessoa. Todos os dias, das 8h às 17h. Trilhas de 1 (Anjos) a 3 km (Arcanjos) até as cachoeiras.
CACHOEIRA DO VALE DA LUA
Rodovia GO-239, km 29 s/nº Zona Rural. Ingressos: R$ 30 por pessoa. Todos os dias, das 7h às 17h. Trilha de cerca de 1,2 km até o salto.
CACHOEIRAS ALMÉCEGAS I, II E SÃO BENTO
Entrada Fazenda São Bento, pela GO-239. Ingressos: R$ 70 por pessoa. Todos os dias, das 8h às 17h. Trilha com cerca de 2 km ida e volta até as cachoeiras.