Três dos cinco estados brasileiros com mais eleitores caminham para ver a polarização do plano nacional se repetir em suas disputas ao governo na eleição, com um candidato ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outro ao presidente Jair Bolsonaro (PL) disputando a preferência do eleitorado. Tanto petistas como bolsonaristas consideram provável a repetição do duelo nacional em São Paulo, Rio e no Rio Grande do Sul.
A eventual ocorrência do embate em mais locais não é descartada, mas só ficará clara ao fim do período de inscrição das chapas. É esperado que no Nordeste, onde Bolsonaro tem baixos índices de popularidade, os candidatos não se vinculem ao presidente, e as eleições para governador sejam influenciadas mais pelas conjunturas locais.
— É uma eleição nacional talvez com mais importância e, portanto, influência, que as demais. Pode ser que o espírito da eleição nacional seja tão forte e tão irresistível que se reproduza nos estados — analisa o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
Entre os bolsonaristas, a avaliação é que os candidatos da terceira via, assim como tem acontecido na disputa presidencial, também terão dificuldade nas corridas para governador.
— A gente tem uma percepção de que essa vai ser uma campanha ideológica da esquerda contra a direita. Os que não se posicionarem de forma bem definida vão ficar pelo caminho. Acabará refletindo nos estados o que está acontecendo no cenário federal — afirma o deputado Capitão Augusto (SP), vice-presidente do PL.
Caso se consolide em São Paulo, o estado com mais eleitores do país (31,9 milhões), a polarização entre um representante do lulismo e outro do bolsonarismo derrubaria uma supremacia de 28 anos do PSDB.
As pesquisas mais recentes colocam o petista Fernando Haddad na liderança. O ex-governador Márcio França (PSB) ocupa numericamente o segundo lugar, mas há a possibilidade de ele deixar a disputa por causa do acordo nacional entre PT e PSB. O candidato de Bolsonaro será o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que planeja se filiar ao PL, sigla do presidente.
— Bolsonaro tem em São Paulo uma perspectiva de uns 25% de eleitores mais fiéis, e tudo indica que o Tarcísio tem capacidade de ser o beneficiário da transferência desses votos. Acho que a maior possibilidade é de um afunilamento do Haddad com ele. A tendência é que a campanha nacional seja muito polarizada, e isso vai se refletir na maioria dos estados — diz o secretário-geral do PT de São Paulo, Chico Macena.
Ele ressalta que o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) não pode ser descartado, mas terá que encontrar uma forma de se descolar da alta rejeição do tucano João Doria.
O professor Carlos Melo ressalta, porém, que há a possibilidade de o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), influenciar na eleição e impedir a consolidação da polarização. Paes quer lançar o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz (PSD) e vem conversando com o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT).
No Rio Grande do Sul, quinto estado com mais eleitores (8,4 milhões), o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, que vai trocar o União Brasil pelo PL, é apontado como um dos mais fortes da disputa pelos adversários. Caso o governador Eduardo Leite (PSDB) não dispute mesmo a reeleição, a previsão é que o bolsonarista tenha como principal adversário um candidato de esquerda — o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) também almeja o posto de candidato de Bolsonaro.
O deputado Paulo Pimenta, presidente do PT gaúcho, usa o argumento da polarização para defender a manutenção da pré-candidatura do petista Edegar Pretto em vez do apoio ao ex-deputado Belo Albuquerque, como tem cobrado o PSB. Albuquerque, segundo ele, “não consegue ir no vácuo do Lula”.
— Quando há candidatos fortes à Presidência, os palanques podem reverberar, compondo quadros que convirjam, já que a competição gira em grande parte pelo controle do Executivo nacional — diz a cientista política Carolina Botelho, pesquisadora do Laboratório de Neurociências Cognitiva e Social do Mackenzie e associada do Doxa/Iesp.
(Com Extra)