Ex-chefe de campanha de Trump se entrega ao FBI

O ex-chefe da campanha de Donald Trump à presidência Paul Manafort foi detido nesta segunda-feira (30/10), dentro de uma investigação em andamento sobre a possível interferência russa nas eleições americanas de 2016.

Manafort se apresentou voluntariamente ao FBI (a polícia federal americana) em Washington, no ápice de um caso que vinha assombrando Trump desde que ele chegou à presidência. Rick Gates, um de seus colaboradores, também se entregou.

A investigação do assessor especial Robert Mueller, um ex-diretor do FBI, foca em possíveis elos entre membros da campanha de Trump em Moscou. Manafort enfrenta 12 acusações, entre elas conspiração contra os Estados Unidos, fraude fiscal e lavagem de dinheiro.

A equipe de Mueller se concentra em ligações entre assessores de Trump e governos estrangeiros, além de possíveis lavagem de dinheiro, evasão fiscal e outros crimes financeiros. Ele também está investigando se Trump ou seus assessores tentaram obstruir a investigação.

Em depoimento à juíza Deborah A. Robinson, da Corte do Distrito de Columbia, Manafort e Gates declararam ser inocentes das 12 acusações apresentadas contra eles. O advogado do ex-chefe da campanha de Trump afirmou não haver evidências do envolvimento de seu cliente ou da campanha eleitoral do republicano com a Rússia e declarou que as acusações são “ridículas”.

Após os depoimentos, Robinson expediu um pedido de prisão domiciliar contra Manafort e Gates. A magistrada retirou ainda o passaporte de Manafort e determinou que o acusado só pode sair de casa para prestar depoimento à Justiça, se reunir com seu advogado, comparecer a exames médicos ou a atividades religiosas.

A juíza determinou também a Manafort e Gates que depositem uma fiança de 10 milhões de dólares e 5 milhões de dólares, respectivamente, que será debitada caso os acusados infrinjam as condições da detenção.

Assessor admite que mentiu

Nesta segunda-feira, agências de notícias revelaram que um outro ex-assessor da campanha de Trump George Papadopoulos se declarou culpado por mentir ao FBI durante as investigações sobre o caso.

Em 5 de outubro, Papadopoulos admitiu que mentiu sobre as datas que teve contato com um professor russo que afirmou ter informações que prejudicariam a campanha de Hillary Clinton. O ex-assessor confirmou que os encontros ocorreram em 2016 quando ele já estava trabalhando com Trump. Inicialmente, o ex-assessor disse que as reuniões teriam ocorrido antes dele assumir um cargo na campanha.

O governo Trump se encontra sob pressão política devido ao escândalo envolvendo a suposta interferência russa nas eleições presidenciais em 2016 e eventuais ligações entre Moscou e a campanha republicana para favorecer a vitória de Trump.

Agências de inteligência americanas garantem que a Rússia esteve por trás dos ciberataques a organizações e operadores do Partido Democrata antes do pleito. Rejeitada por Moscou, a conclusão é apoiada também por empresas de segurança cibernética.

A demissão repentina do ex-chefe do FBI James Comey, em maio, levantou questões sobre as motivações do presidente, já que foi sob o comando desse diretor que a polícia federal americana iniciou um inquérito envolvendo a ingerência russa.

Após seu afastamento, Comey revelou que Trump chegou a lhe pedir, em fevereiro, para encerrar uma investigação sobre o ex-conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca Michael Flynn, envolvendo também contatos com russos.

Presidente tenta desviar foco

Trump reagiu com uma enxurrada de declarações no Twitter, após as notícias sobre os primeiros indiciamentos dentro da investigação.

Na rede social, Trump voltou a negar interferência de Moscou e criticou que as denúncias venham à tona no momento em que o Partido Republicano tenta fazer avançar no Congresso uma reforma tributária. “Coincidência? Não!”, alardeou o presidente.

Ele acusou o Partido Democrata de se aproveitar do que chamou de “caça às bruxas” para obter vantagens políticas e criticou a “falta de investigações” sobre a campanha da democrata Hillary Clinton. Como exemplo, ele citou o escândalo dos 33 mil emails da ex-secretária de Estado que teriam sido apagados e uma suposta compra de dossiês falsos. “Façam alguma coisa!”, pediu o presidente no Twitter.

Na semana passada foi revelado que o Partido Democrata e a campanha de Hillary teriam financiado o dossiê do ex-espião britânico Christopher Steele sobre as possíveis ligações de Trump com o Kremlin.

Trump disse que jamais houve tanta “raiva e unidade” no Partido Republicano, que, segundo afirma, “luta como nunca antes” contra as acusações, em meio a sinais cada vez mais evidentes de uma divisão interna na legenda.

O inquérito que apura possíveis relações entre o governo em Moscou e a campanha de Trump investiga, além de Manafort, o genro e assessor do presidente, Jared Kushner, e seu ex-assessor de segurança nacional Michael Flynn, entre outros. Várias comissões do Congresso americano também realizam investigações paralelas.

Um grande júri federal aprovou na sexta-feira as primeiras denúncias dentro da investigação. Um juiz federal decretou sigilo sobre os indiciamentos, que poderá ser removido ainda nesta segunda-feira.

 

Com DW

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