Apesar de o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia ter travado novamente, o governo federal reitera o discurso de que o acerto ocorrerá em breve. A expectativa era de que o tratado fosse finalizado na 63ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, que será realizada nesta quinta-feira, no Rio de Janeiro.
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que houve avanços importantes nas negociações. “Destaco os compromissos de ambos os lados em prol de um entendimento equilibrado, no futuro próximo, e a partir das bases sólidas que construímos nos últimos meses de engajamento intenso”, ressaltou, nesta quarta-feira, na abertura do Conselho do Mercado Comum do Mercosul.
Na mesma linha, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse esperar que o acordo seja assinado “muito em breve”. Em encontro de ministros do bloco sul-americano, o chanceler frisou que o tratado tem “dimensão estratégica inequívoca” para o Mercosul. Nas palavras dele, será um ponto de inflexão na dinâmica econômica das duas regiões.
Por isso — frisou Vieira —, os dois lados devem ter o tempo necessário de preparação para a abertura comercial. “Especialmente na etapa negociadora mais recente, tivemos o cuidado de ampliar as salvaguardas para a implementação dos compromissos assumidos no acordo”, sustentou.
As negociações se intensificaram nas últimas semanas, em um esforço conjunto para que a conclusão fosse anunciada nesta quinta-feira. Esse cronograma, no entanto, já foi descartado dentro do governo.
Com a conclusão pendente, o governo tem destacado o progresso das discussões com a UE, o acordo com Singapura e a expansão do Mercosul com a entrada da Bolívia como resultados obtidos nos seis meses em que o Brasil ocupou a presidência rotativa do bloco dos sul-americanos.
“Se estamos todos juntos aqui, nesta reunião do Mercosul, é porque acreditamos que podemos sempre aperfeiçoar e aprofundar nosso processo de integração regional, e que podemos trabalhar para expandir o comércio e os investimentos. Também porque entendemos que, num momento de aparente fragmentação das relações internacionais, o caminho da integração continua a ser relevante e pode dar resultados concretos”, comentou Alckmin.
Segundo ele, “a integração não se faz apenas com grandes gestos e grandes acordos; faz-se também no dia a dia, com avanços pontuais que destravam barreiras e criam oportunidades”. E alegou que, sob o governo Lula, o Mercosul está “crescendo e se reafirmando no cenário internacional”.
“Precisamos avançar na infraestrutura conjunta do bloco, melhorando rodovias, hidrovias, ferrovias, portos, aeroportos, adensando o intercâmbio energético, o escoamento da produção e favorecendo o turismo. Tão importante quanto baixar tarifas e harmonizar padrões e sistemas é prover os meios físicos para garantir as trocas comerciais”, acrescentou.
Na reunião de hoje estarão presentes os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, e do Paraguai, Santiago Peña. Também participará o presidente da Bolívia, Luis Arce, país que assinará o protocolo de adesão ao Mercosul, após aprovação pelo Congresso Nacional brasileiro.
Ausências
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o da Economia da Argentina, Sergio Massa, não participaram da reunião do Conselho do Mercado Comum do Mercosul. Haddad ficou em Brasília acompanhando as negociações no Congresso. A intenção do governo é concluir as tramitações de medidas que buscam aumentar a arrecadação no próximo ano. Já Massa, derrotado por Javier Milei no segundo turno da disputa eleitoral de novembro, nem viajou ao Rio.
A ausência dos dois ministros mais importantes das duas maiores economias do bloco esvaziou o encontro do Conselho, integrado pelos ministros das Relações Exteriores e da Economia de todos os membros do Mercosul, responsável pela condução política do processo de integração regional.