Nove toques na bola.
E substituição no intervalo.
Sair como jogador com a pior atuação contra a fraca seleção peruana.
A Copa América está sendo exatamente o contrário do que sonhava Gabigol.
Em vez de ser um caminho seguro para a Copa do Mundo, está deixando claro que o artilheiro do Flamengo não serve para a seleção.
Por que será que seu desempenho é tão ruim?
Por uma situação muito simples. O esquema tático de Tite ‘queima’ o atacante do Flamengo.
No bicampeão brasileiro, ele pode flutuar por onde quiser. Pela direita, pela esquerda e, muitas vezes, volta para buscar a bola no meio de campo.
Com Tite, não.
Ele encaixota Gabigol entre os zagueiros e volantes adversários. O atacante tem espaço limitadíssimo. A direita pertence a Gabriel Jesus ou Richarlison. A esquerda é toda de Neymar ou, eventualmente, Everton Cebolinha.
Tite foi perguntando especificamente sobre o fraco desempenho de Gabigol. E fugiu da resposta.
“Calma, o futebol é feito de calma. A gente cria expectativa excessiva. Assim como Everton Ribeiro. A gente mexeu a equipe toda, com seis modificações. A mecânica… O futebol é uma engrenagem, demora a se ajustar. No segundo tempo, a gente trouxe como estratégia [as substituições], porque entendia que o jogo pedia isso. A entrada do Everton Ribeiro trouxe uma situação melhor. Talvez se tivesse o Everton com Neymar e Gabigol poderia ser melhor, o Cebolinha podia ser melhor. A gente tem que ter calma para fazer engrenagem e ajuste.”
Como o jornalista que pergunta não tem direito a ressaltar que sua indagação não foi respondida, ficou superficial, sem resposta.
Mas o que acontece com Gabigol não é novo.
Bruno Henrique, jogador que vivia fase fabulosa no Flamengo, não rendeu nas mãos de Tite.
Pelo simples motivo que o técnico o escalou como centroavante. E chegou a colocá-lo na ponta direita. Quando Bruno Henrique é um jogador de velocidade, de profundidade, especialista pelo lado esquerdo.
Jogando em posição que não é sua, Bruno Henrique acabou ‘queimado’ na seleção.
Se Tite pretende atuar com três atacantes fixos e apostar em Gabigol preso entre os zagueiros e o volante adversário, ele está perdendo tempo. Do atacante flamenguista e da própria seleção brasileira.
Gabigol não é este jogador de presença de área, de cotovelos abertos, pronto para fazer o pivô, atuar de costas para o gol.
Tite precisa dar liberdade para o maior artilheiro do futebol brasileiro.
Ou esquecê-lo.
Chega a ser cruel ver Gabigol na Copa América.
Frustrado, irritado, tenso. Sabe que precisa ser obediente a Tite. Mas acaba sabotando seu futebol.
Bruno Henrique foi subserviente a Tite. E acabou esquecido, sem defensores pedindo sua convocação.
Gabigol caminha na mesma direção.
Nove toques na bola em 45 minutos de jogo.
Roberto Firmino deixou de ser titular por atuar encaixotado.
Nesta geração de atacantes brasileiros, não há um centroavante típico. Pelo esquema de Tite, Lewandowski seria o jogador que procura.
Gabigol tem duas saídas.
Ou conversar com Tite e buscar mais liberdade, coordenar um revezamento com Neymar e Gabriel Jesus ou Richarlison.
Ou se submeter e se ‘queimar’ na seleção.
Não há outra saída.
Qualquer dúvida, ele que pergunte a Bruno Henrique…